domingo, 21 de fevereiro de 2010

Beleza Americana-atravesse a cortina

Beleza Americana é um filme que eu gosto incondicionalmente. Tudo no filme pode (e deve) ser elogiado sem medo, é sem dúvida uma das melhores dramédias de todos os tempos que crítica e provoca sem ser agressiva. O filme propõe vermos o que há por trás da aparente perfeição das famílias americanas do século XXI, ameaçando destruir o conceito de “American Way of Life”, revelando os segredos e os podres daqueles que à primeira vista são bem sucedidos, felizes e perfeitos.

A história tem como protagonista Lester Burham (Kevin Spacey) que leva uma vida medíocre e sem emoções, ao lado de sua família que o odeia. Sua mulher, Carolyn, é uma corretora que vive de aparências, se esforçando para que a todo instante passe uma imagem de sucesso e realização, vivida por Annette Bening. E ainda tem sua filha adolescente, Jane, interpretada por Thora Birch, que se revolta com tudo e vive os dramas da idade, além de se relacionar com o estranho novo vizinho, Ricky (Wes  Bentley) que sempre está filmando as coisas em seu redor. Cansado dessa vida de merda, Lester propõe a si mesmo uma transformação, e decide ser mais ativo e nunca mais se deixar dominar pelos outros. Essa mudança repentina pode ser atribuida, entre muitas outras coisas, ao fato de Lester conhecer e vidrar na amiga da filha, a sensual Angela (Mena Suvari), tendo ela como musa inspiradora em seus sonhos e no seu desejo de ficar diferente, mais atraente, para assim conseguir conquistar sua ninfeta de cabelos loiros. Ele então muda seu modo de agir totalmente, o que desencadeia várias excitantes consequêcias até o seu sombrio final.

Beleza Americana foi um grande sucesso de público e crítica, que levou 5 Oscars: de Melhor Filme, Diretor (o estreiante Sam Mendes), Ator (Kevin Spacey), Roteiro Original e Fotografia, com razão em todas as categorias premiadas.

O filme é uma comédia bem crítica e sombria sobre a sociedade, podendo até ser comparada exageradamente com “Clube da Luta”, sem é claro toda a violência deste, já que ambos os filmes discutem questões como aproveitar a vida, parar de se rebaixar aos outros, e discuti temas como o mal do consumismo, hipocrisias da sociedade e relações sociais, aproximando esses dois filmes aparentemente distintos, curiosamente lançados no mesmo ano (99). Beleza Americana nos convida a analisar a vida, sem farças ou aparências, simplesmente do jeito que ela é, com problemas, bizarrices e excentricidades geradas pelo modo de vida padrão estranho que nós seguimos. O roteiro é bem afiado nesse ponto, com direito a tiradas espertas e sarcásticas que você sempre sonhou a dizer, te dando prazer ao assistir aos diálogos, e às vezes, até aos monólogos bem estruturados e proferidos que o longa nos apresenta, com ajuda, é claro, das atuações precisas dos atores, fazendo a combinação roteiro e elenco ir longe! Dou destaque à Kevin Spacey, um dos meus atores favoritos, até mesmo por causa desse filme, que mostra todas as nuâncias de seu personagem que se transforma de maneira drástica, como muitos adorariam fazer em suas vidas chatas e normais [“Pois não há nada pior na vida do que ser normal…”]

Uma das coisas que eu mais adoro nesse filme são as cenas deliciosas dos sonhos de Lester com Angela envolta de várias pétalas de rosa, cena que marcou o cinema para sempre. Outra coisa é a trilha sonora do longa que é irresistível! A música inicial é, na minha opinião, uma das mais legais do cinema e é a música-simbolo do filme, é envolvente, sedutora, divertida e parece que quer nos dizer alguma coisa, traduzindo exatamente a essência do filme.

Eu tenho um certo problema ao ver filmes como esse: eu sempre tento jogar na subjetividade, vendo coisas que talvez nem existam realmente, mas nesse caso acho que não estarei mirando em moinhos de ventos. Se você analisar Beleza Americana com uma visão mais, digamos, filosófica, verá o que cada personagem representa. Lester é a sociedade, fraca e impotente, que se vê rodiado por influências externas que o leva a tomar decisões a qual ele não está de acordo: sua mulher que é a tentativa de manter as aparências; seus superiores que representam o sistema controlador , a base da sociedade; sua filha sendo a geração seguinte que é desajustada devido a problemas da anterior (Lester) e Angela que é a proposta de mudança que pode não ser aquilo que se esperava quando a alcança. Ainda temos personagens secundários como Buddy Kane “o rei dos imóveis” com quem Carolyn tem um caso, e que representa o sucesso concreto que ela sempre quis; temos também o novo vizinho, Fitts (Chris Cooper), ex oficial da marinha que representa a hipocrisia por intolerar algo que ele mesmo é, e por final temos o seu filho, Ricky, que está sempre filmando o que acha belo, até mesmo se isso significar invadir privacidade alheia, sendo então a representação de nosso diretor que com sua lente atravessa as cortinas da aparência e nos mostra o que as pessoas realmente são. Viu como tudo se encaixa? (É, sou mesmo maluco…)

Uma curiosidade do fime que eu achei realmente interessante é relacionada ao seu título, American Beauty, que faz referência a um tipo de flor americana, uma rosa (pegou né?), bela e perfeita porém sem perfume. Não preciso nem dizer que é a maior crítica a sociedade americana feita num título na história do cinema.

Como ganhador de Oscar de Melhor Filme, Beleza Americana se mostra um dos mais divertidos de se assistir. É um filme que faz rir e emociona alternadamente, funcionando numa simetria perfeita. É um filme que lhe enfia uma faca no peito enquanto você está rindo, e quando para de rir, percebe o que realmente está acontecendo. Profundo demais! Assistam!

2 comentários:

  1. caramba, fiquei muito afim de assistir esse filme agora O: você realmente foi bem fundo, adorei (Y)

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  2. Vlw isa! :D
    Se quiser, eu tenho esse aqui em casa, posso te emprestar.

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