sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Minhas Mães e Meu Pai-Comédia Familiar Ousada e Normal

Nos indicados ao Oscar de melhor filme sempre encontramos uma comédia dramática familiar dando o ar da graça, e esse ano não foi diferente, o filme da vez é o divertido Minhas Mães e Meu Pai que conta com duas coisas que aprecio muito: excelentes atuações carismáticas e um roteiro peculiar.

A história é realmente original, então vamos por partes. Temos no centro uma família bem moderna, composta por duas lésbicas, Jules (Julianne Moore) e Nic (Annete Bening) e 2 filhos, Joni e Laser, cada um foi fruto de inseminação artificial do esperma de um mesmo doador em cada uma das duas, sendo assim os filhos são de um mesmo pai, Paul, que eles não conhecem. Quando Joni faz 18 anos, ela pode ir atrás do cara cujo esperma a criou, e assim o faz, reunindo toda essa estranha família pela primeira vez, o que vai mexer muito com todos.

Fazendo uso de um humor ousado que mexe com a questão da sexualidade em várias situações que acabam por envolver a familia, Minhas Mães e Meu Pai esbanja originalidade com um roteiro descolado, moderno e extremamente divertido. Sua preocupação em mostrar um casal lésbico agindo exatamente como um casal hétero é notável, tudo ocorre com naturalidade, e as duas mães tem que lidar com os mesmos problemas cotidianos de toda família. É interessante perceber como que com a chegada do pai desestabiliza as duas de jeitos diferentes. Enquanto Jules, que é mais afeminada, sente uma atração forte por ele, mesmo sendo lésbica, Nic se mostra meio agressiva, uma vez que ele representa uma ameaça para seu posto de “macho alfa” da familia. Essa diferença, e o fato de Jules acabar se relacionando com Paul, é o fator que desencadeia toda a crise familiar, onde as duas colocam todos os ressentimentos para fora e brigam, exatamente como um casal hetero, isso é formidável. Eu sei que vocês já devem estar pensando que eu sou quadrado ou até machista por enfatizar que o casal lésbico é completamente normal, mas o que mais chama atenção no filme é exatamente isso. Acho que inclusive o objetivo do longa é quebrar o tabu sobre o assunto, mostrando que sim, casais lésbicos de uma maneira ou de outra, são como todos os outros, com problemas conjugais, familiares e cotidianos.

O que deixa esse filme tão ousado parecer tão leve e divertido, sem dúvida é o resultado da soma de personagens complexos muito bem desenvolvidos e atuações brilhantes de cada um envolvido. Todos os atores principais tem performances fantásticas, entoando os dialogos muito bem, como uma familia procederia no seu dia a dia. Os filhos, Mia Wasikowska e Josh Hutcherson, souberam se posicionar muito bem, e Mark Ruffalo está como sempre muito divertido fazendo o papel de cool guy controlado. Agora, o brilho fica mesmo por conta de Julianne Moore e Annete Bening, duas atrizes que praticamente nasceram para esses papéis! Realmente não consigo ver outras atrizes exercendo tão bem esses papéis quanto elas, tendo uma quimica tão boa e natural no relacionamento. As atuações das duas estão no mesmo nível de excelencia, de modo que achei injustiça não terem dado uma indicação ao Oscar também para Julianne. Bening é a segunda favorita ao prêmio, competindo com Natalie Portman, de modo que a briga ainda está bem incerta. Annete tem um olhar, uma expressividade gigantesca na tela, nos dando feições variadas que dão credibilidade e naturalidade a sua complicada personagem. Em resumo, todos estão no tom certo para que a quimica do filme funcione.

Interessante notar no título original do filme (“The kids are all right”- as crianças estão bem) o que ele quer passar. No longa, os filhos tem seus problemas pessoais sim, normais dessa fase, mas o que está em foco mesmo são os pais, que estão num momento de instabilidade caracteristica da adolescencia, invertendo os papéis por completo. As crianças estão bem nos seus lugares, agindo de forma madura e responsavel, enquanto os pais perdem as noções das coisas e entram em crise. E quando chega o seu final, onde as duas se reconciliam com olhares alegres, temos certeza que as crianças estão bem.

Mais do que recomendo esse divertidissimo filme que emociona por tratar da questão da família moderna com bastante descontração, sem julgar ou punir, e muito menos dizer o que é certo ou errado, se preocupando apenas em contar como é a vida de uma familia que foge dos padrões “normais”, que por ironia acaba sendo exatamente como é a sua. Minhas Mães e Meu Pai provavelmente não levará o Oscar de melhor filme, mas assim como Pequena Miss Sunshine e Juno, marcará presença em muitas listas de filmes favoritos por aí, pois se trata de um longa incansavel de se assistir. Acho que não preciso dizer mais nada, assistam pois vale muito a pena!

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