segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Fim do Caminho (Crônica)

Não gosto de andar por essas ruas de noite. Nem é tão tarde ainda, não passam das dez, mas aqui não posso me dar o luxo de andar despreocupado por essas calçadas sujas de sangue. Não estou em Sin City, só para esclarecer, mas é quase impossível não fazer a comparação. Por incrível que pareça, Sin City tem uma beleza que essa cidade não tem. É aquela: a realidade é sempre mais crua e sem graça do que a ficção. Enfim, é melhor apertar o passo.

Ai meu Deus! O que que ta acontecendo ali? Puta merda, é um assalto, o cara ta armado! Vou passar sem nem olhar para o lado. Ainda não me acostumei com isso, essa vida ordinária nessa dita cidade maravilhosa. Caralho! O cara acabou de dar um tiro! O babaca assaltado ta fugindo! Nessas situações não se pode bancar o machão Marvin! Entrega logo a porra que o bandido quer e pronto! A sua vida não vale uns trocados! Que merda, agora o bandido ta correndo pra cá atrás do cara!

Continuo andando como se não tivesse vida, como se eu fosse cego. Não quero nem servir como testemunha ocular. Só quero chegar em casa, preparar um miojo e ir dormir. Meu coração nunca esteve tão acelerado. Se controla. Não deixe ele perceber. Pára! Continuo andando tentando manter o controle. Que sensação horrível! Só quero chegar em casa. Meu Deus me ajude! Isso não estaria acontecendo se o desgraçado tivesse dado o que o ladrão queria de uma vez! Ando meio desnorteado, mas continuo no meu caminho. Não precisava passar por isso. Eu vim pra cá para estudar, fazer uma boa faculdade federal. Aqui era onde eu iria começar a realmente viver a minha vida. Ouço mais um tiro. Meu Deus, porque? Só quero chegar em casa. Continuo andando como se não tivesse vida. Sinto o impacto do meu corpo ao cair no chão.

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