quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Feiúra Brasileira (Crônica)

Vou dormir. Depois de tudo, vou dormir. Minha mulher me despreza. Meu filho adolescente me odeia. Meu emprego é uma merda. Legal, sou o Lester de Beleza Americana. Só que pior, sem nenhuma ninfeta querendo algo comigo. Que merda. Que merda. Estou tão cansado que mal consigo admirar minha desgraça. A única coisa que chega a me confortar é saber que existem outros na mesma situação que eu. 45 anos. Fracassado profissionalmente. Fracassado amorosamente. Fracassado humanamente. Fracassado. Ah, não vou pensar nisso. Vou dormir, ainda não tiraram meu direito de sonhar, pelo menos enquanto eu durmo.

Pétalas de um flor brasileira começam a cair em minha volta na cama. Hun, bela adaptação subconsciente. Quem é aquela? A namorada do meu filho? Meu Deus. Oh sim é ela. Mais uma vez, bela adaptação subconsciente. E olha, ela está totalmente descoberta, diferente do filme, eu sei que é repetitivo, mas, bela adaptação subconsciente. Olha, tem até música. É meio um bolero, algo assim, lembra Brasil mesmo. Gosto tanto da trilha original, prefiro a versão americana. Enfim, deixe me concentrar na namorada do meu filho nua. Bela morena, fartos seios, cabelos lisos e nenhum pêlo cobrindo o corpo. Perfeita adaptação subconsciente. Ei, porque ela tá indo embora? O que tá acontecendo? Não, espera por mim! Para! Tá tudo escuro agora. Olha dinheiro. Ahh dinheiro. Tá chovendo notas de 50. Nunca vi uma nota de cem. Triste. Foda-se, pego 2 de 50 e dá no mesmo. Não, também estão indo embora, as notas estão desaparecendo das minhas mãos. Que pesadelo é esse? É a minha vida? Ah não. Eu quero um sonho de verdade. Um sonho que me faça querer nunca mais acordar. Se desse para voltar para a imagem inicial eu aceito na hora! O problema é esse, não se pode ter tudo que se quer, não controlamos nossos sonhos. Que imagem horrenda é essa? Um rosto gordo, estranho, um sorriso meio falso. Espera. Ah não. Não, não, não, não! Dilma Rousself! Isso já é demais. Eu quero acordar! Eu quero acordar!Ahhh!

-Ah ah ah (Ofegante). Meu Deus. Que porra foi essa.

-O que que está acontecendo? Quando enfim consigo dormir, você me acorda!- disse minha esposa, se é que ainda posso chamá-la assim.

-Desculpa. Tive um puta pesadelo.

-Ah, pelo amor de Deus! Tá muito grandinho para ter esses tipos de coisa. Vai dormir ou pelo menos tenha pesadelos mais silenciosos e me deixa dormir que amanhã acordo cedo para poder colocar o pão de cada dia na mesa dessa casa!

-Tá bom, não vou te incomodar mais. VACA! (essa última palavra eu falei mentalmente)

Desgraçada! Já foi tão gostosa, agora ta aí, vomitando sobre mim todo dia cada vez mais xingamentos e verdades escrotas. Me desculpe por ter pesadelos. Eu preferia não tê-los, mais é difícil não ter com uma MONSTRA DORMINDO NO MEU LADO! Pior do que ela só a monstra que apareceu no meu sonho/pesadelo. Dilma Rousself. Puta merda, meu subconsciente começou tão bem. Pensando agora, isso é quase uma metáfora. Sei lá, os sonhos começam tão bem, mas terminam tão mal. Acho que é por isso que de uns tempos para cá prefiro não tê-los, acho que a realidade tem como objetivo destruí-los, então decidi ir contra o sistema e não dar esse privilégio para a realidade. Se eu não tiver sonhos, ela não pode destruí-los! RÁ, xeque-mate! Que merda. Que vida medíocre. Vou tentar dormir de novo, e já vou avisando subconsciente, se for pra sonhar que seja com a namorada do meu filho, porque de desgraças já basta a minha vida.

 

“O que aconteceu com o sonho brasileiro? Virou realidade”

Mega adaptação conveniente ao texto de Watchmen

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