quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Cidade de Deus- Épico Brasileiro

Devo confessar que eu sempre fui um cinéfilo antipatriótico, nunca gostei do cinema brasileiro, achava que o Brasil era muito pobre nessa área a ponto de saber produzir apenas 3 tipos de filme: comédia fácil, drama sobre miséria e pornô, mas Cidade de Deus me fez reavaliar os meus conceitos.

Cidade de Deus, considerado por muitos o melhor filme brasileiro já feito, conta a história justamente da evolução (se é que possa se dizer assim) desse conjunto habitacional do Rio de Janeiro através das histórias de seus principais personagens. É impressionante o modo como as histórias seguem uma continuidade ao longo do filme, pois não existem histórias soltas, todas tem sua ligação, num jogo de causa e consequência.

O mais legal de todos os aspectos do filme é a ousadia do grande Meirelles ao usar diversos tipo de manejos da câmera, transformando o filme numa grande obra visual também, coisa  pouco explorada nos filmes brasileiros. O início do filme já mostra todo o seu potencial começando do fim (coisa que eu adoro em filmes) e tem aquela rodada 360º no Buscapé (nosso narrador e de certa forma o personagem principal) que nos leva de volta a origem da Cidade de Deus, que vai ser contada ao longo do filme até aquele ponto, simplesmente genial.

Por termos muitos personagens fica dificil explicar cada um, mas podemos destacar, além de Buscapé (Alexandre Rodrigues), Zé Pequeno (Leandro Firmino da Hora) o grande vilão dono de “tudo”, Sandro Cenoura (Matheus Nachtergaele) rival de Zé Pequeno, Mané Galinha (Seu Jorge) aliado de Cenoura e Angélica (Alice Braga) uma burquesinha que se envolve com o melhor amigo de Zé Pequeno. Todos são muito bem caracterizados e interpretados  ajudando a compor a perfeição desse filme.

Podemos perceber nesse filme uma influencia direta de (é agora que vcs me matam) Quentin Tarantino em várias características do filme. Temos, por exemplo, a violência como base, um roteiro entrelaçado por histórias aparentemente independentes, personagens cínicos que devido a influencia do seu meio externo adotaram a violência e o crime como estilo de vida, os estilos de câmera e de iluminação, a edição não convencional e as falas recheadas de palavrões, visivelmente Tarantino’s Rules!

As falas recheadas de palavrões, como eu já disse, conseguem mostrar uma visão bem crua (e cruel) da realidade dos personagens que retratam muito bem a população de baixa renda carioca. Além disso, temos no filme o que eu acredito ser a frase mais famosa do cinema brasileiro dita pelo adorável monstro Dadinho: “Dadinho é o caralho, meu nome é Zé Pequeno!” Desculpa…. (nossa, que ridículo o que eu acabei de fazer!).

Cidade de Deus acaba misturando vários estilos, temos ação, drama, comédia de humor negro e um leve romance, e por mais que seja enquadrado apenas como um drama, acho que ele passa uma sensação de terror inigualavel! Nós ficamos realmente assustados com a “realidade” que nos é apresentada, ver tantas coisas ruins e erradas acontecerem na vida desses personagens e percebermos que existem muitas pessoas reais que vivem isso no seu dia a dia é horrível. Observar o crescimento de Zé Pequeno no mundo do crime é angustiante, nós vemos uma criança de 9 anos matando sem peso na consciencia e a cada tiro que ela dá ele vai mudando até que “Dadinho” se torne Zé Pequeno, uma cena genial, porém triste se colocarmos nos parâmetros reais. Pra mim a parte mais “assustadora” é ver as crianças da Cidade de Deus se encaminharem sem medo pelas trilhas do crime e da violencia, vê-las agindo como traficantes, falando como eles.Citando “Apocalypse Now”: “The horror…the horror…”. Cidade de Deus consegue transpirar crueldade, mas sem que seja algo insuportavel, é uma sensação diferente, só vendo pra entender.

Cidade de Deus é um filme que me fez acreditar no cinema brazuka, ainda mais nesse ótimo momento onde temos muito investimento nessa área, o que vem colocando em circulação mais filmes nacionais e de gêneros diferenciados. Com um filme assim, eu finalmente passei a acreditar no potencial brasileiro de produzir filmes tão bons quanto os estrangeiros (yes we can!). A única lastima é que a cobiça do homem é maior que tudo, e infelizmente, foi só Meirelles conseguir reconhecimento internacional que ele foi tentar a vida lá fora, se esquecendo do seu Brasil brasileiro, mas enfim é a vida, assistam e inspirem-se!

Pôster internacional do filme (orgulho)

Um comentário:

  1. Você deveria ter pesquisado mais sobre filme e na pesquisa descobriria que o filme foi baseado na obra literária de mesmo nome, do autor Paulo Lins, foi de lá que Meirelles e Mantovani tiraram toda a violência e palavreado cru recheado de palavrões, é tudo derivado do livro, que inclusive foi baseado em fatos reais vivenciados pelo autor, que morava em Cidade de Deus. Não viaja, não tem nada com Tarantino.

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