Na segurança do meu apartamento, ouço um tiro no silêncio da noite. Olho para a janela, não me preocupo, sigo em frente com meu trabalho. Aqui no Rio isso é comum, já me acostumei. Não pense que sou um burguês hipócrita que diz estar preocupado com a paz mundial, mas não move uma palha para ajudar o próximo, eu me preocupo com o próximo. Mas a morte hoje em dia faz parte do cotidiano, chego a me sentir dentro de um filme do Tarantino. Tomo um gole de café e volto a escrever.
Não sei porque, mas o tiro continua a repercutir na minha cabeça, começo a questionar os efeitos desse tiro. Será que alguém se feriu, ou pior, morreu? Teria sido um tiro direcionado a um bandido, ou a um cidadão inocente? Qual teria sido o motivo do crime? Será que existe um motivo para matar? O que leva um ser humano a achar que tem o direito de tirar a vida do próximo? Ninguém tem o direito de matar outro, e nem existe motivo aceitável para tal. Os motivos são criados como modo de disfarçar a crueldade por trás de seus atos, um jeito de diminuir a sua culpa. É nessa hora que eu me pergunto o que houve com a paz. Teria ela sido atingida por uma bala perdida? Bem, se é que ela um dia existiu, pensando bem a paz nunca existiu. Acho que o ser humano precisa evoluir muito para chegar a um estado sublime.
Enfim, quem morreu não fui eu, então deixa pra lá, tenho que voltar ao trabalho. Se não terminar minha tarefa hoje aí sim meu chefe me mata. Ouço outro tiro, minha caneca de café caiu ao chão, tudo começa a ficar escuro…
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Bem, eu escrevi essa crônica ano passado para um concurso de redação que rolou no meu colégio, cujo tema era paz. Minha redação foi uma das escolhidas e foi para um livro (sou um autor publicado, seus merdas!), e quando eu comecei a fazer essa seção de crônicas no blog pensei que esta seria uma boa para postar qualquer dia, mas acabei enrolando e me esqueci dela. Devido a guerra instalada no Rio de Janeiro nos últimos dias achei bem conveniente postá-la, e assim o fiz. Espero que essa situação toda mude, para que consigamos enfim a paz.
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