sábado, 27 de novembro de 2010

Enfim a Paz (Crônica)

Na segurança do meu apartamento, ouço um tiro no silêncio da noite. Olho para a janela, não me preocupo, sigo em frente com meu trabalho. Aqui no Rio isso é comum, já me acostumei. Não pense que sou um burguês hipócrita que diz estar preocupado com a paz mundial, mas não move uma palha para ajudar o próximo, eu me preocupo com o próximo. Mas a morte hoje em dia faz parte do cotidiano, chego a me sentir dentro de um filme do Tarantino. Tomo um gole de café e volto a escrever.

Não sei porque, mas o tiro continua a repercutir na minha cabeça, começo a questionar os efeitos desse tiro. Será que alguém se feriu, ou pior, morreu? Teria sido um tiro direcionado a um bandido, ou a um cidadão inocente? Qual teria sido o motivo do crime? Será que existe um motivo para matar? O que leva um ser humano a achar que tem o direito de tirar a vida do próximo? Ninguém tem o direito de matar outro, e nem existe motivo aceitável para tal. Os motivos são criados como modo de disfarçar a crueldade por trás de seus atos, um jeito de diminuir a sua culpa. É nessa hora que eu me pergunto o que houve com a paz. Teria ela sido atingida por uma bala perdida? Bem, se é que ela um dia existiu, pensando bem a paz nunca existiu. Acho que o ser humano precisa evoluir muito para chegar a um estado sublime.

Enfim, quem morreu não fui eu, então deixa pra lá, tenho que voltar ao trabalho. Se não terminar minha tarefa hoje aí sim meu chefe me mata. Ouço outro tiro, minha caneca de café caiu ao chão, tudo começa a ficar escuro…

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Bem, eu escrevi essa crônica ano passado para um concurso de redação que rolou no meu colégio, cujo tema era paz. Minha redação foi uma das escolhidas e foi para um livro (sou um autor publicado, seus merdas!), e quando eu comecei a fazer essa seção de crônicas no blog pensei que esta seria uma boa para postar qualquer dia, mas acabei enrolando e me esqueci dela. Devido a guerra instalada no Rio de Janeiro nos últimos dias achei bem conveniente postá-la, e assim o fiz. Espero que essa situação toda mude, para que consigamos enfim a paz.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Harry Potter 7- O Fenômeno da Minha Geração

O fim começou. Toda grande saga tem um final, e a saga de Harry Potter no cinema está a um passo do seu desfecho. Nós, fãs, torcemos para que tudo corra bem e que ninguem faça nenhuma merda que estrague o grand finale, então sem dúvida ficamos bastante apreensivos. Eu, particularmente, fiquei muito feliz com a primeira parte, que conseguiu se desenvolver bem e nos deixar ávidos de vontade de ver a próxima parte, onde enfim nos despediremos desse mundo mágico que viveu tanto no nosso imaginário durante todo o nosso crescimento. Aviso aos navegantes que no texto podem haver pequenos spoillers, então, CUIDADO!

 

Na primeira parte do capítulo final, Harry, Rony e Hermione vão atrás das horcruxes, objetos enfeitiçados que contem parte da alma de Lord Voldermort, que se mantém imortal através delas. Mais do que procurar esses objetos, eles tem que descobrir como destruí-los de forma efetiva, para assim enfraquecer o grande vilão. O mundo dos bruxos e dos trouxas estão cada vez mais interligados, e Voldermort está ainda mais poderoso, interfirindo nos dois mundos, espalhando medo por toda a parte, visando ser o bruxo mais forte de todos os tempos e eliminar todos aqueles “sangues ruins” da sociedade. Numa trama bem traçada, com várias mortes importantes durante todo o longa, Harry Potter e as Reliquias da Morte parte 1 te deixará impressionado com a sua maturidade e excelência!

 

Quando anunciaram que o último livro da saga seria dividido em 2 partes eu fiquei feliz no primeiro momento, imaginei que dessa vez não tentariam compactar a história, decepando partes importantes e por algum motivo obscuro introduzindo cenas inventadas (vide todas as partes de Harry Potter e o Enigma do Principe), mas depois fiquei preocupado com o seguinte: um filme precisa ter começo, meio e fim satisfatórios, ou seja, precisa de uma história que se desenvolva até o ápice final, onde teríamos um belo clímax, como fazer isso com a história de um livro? É meio complicado criar um clímax no meio do livro, é como ter um orgasmo ainda nas preliminares, o que o filme realmente mostrou que pode acontecer. David Yates conseguiu editar o longa de forma que finalizasse bem a 1° parte e conseguisse o que de fato queria: explicar o que não foi explicado no 6 e nos deixar com vontade de ver a próxima parte. Temos uma boa ação final sim, não o que temos normalmente em filmes de HP, mas ainda assim satisfatória devido a situação em que se encontrava, só que para que possamos dizer que o ultimo filme tenha sido bem sucedido a próxima parte tem que ser um clímax contínuo, aí sim podemos nos sentir bem perante o final ok da primeira parte.

 

Eu não li esse último livro, mas amigos meus que leram disseram que o filme conseguiu adaptar muito bem as coisas, sem nenhum grande desfalque ou erro de concordância, tudo saiu nos conformes, então já dá pra ver que o filme foi realmente bom, já que até os leitores gostaram. A recriação do mundo de J.K Rowling está como sempre impecavel, os cenários, os figurinos, maquiagem, tudo está como devia ser, compondo uma belissima obra de arte. O que podemos destacar nesse filme é a fotografia, já que o trio não passa o seu tempo em Hogwarts como nos outros capitulos, mas sim peregrina pelo mundo bruxo atrás das horcruxes, passando por lugares belissimos, campos abertos que foram um prato cheio para o diretor. Temos ótimas cenas de ação e combate entre os bruxos, a câmera agil ajuda muito nesse instante, e nos dá a sensação exata de agitação da cena, porém em alguns momentos ela é usada em cenas de dialogos, o que não tem nenhum sentido e nos deixa tontos. Legal ver que as varinhas nesse filme viraram verdadeiros revolvers, nos proporcionando combates emocionantes.

 

As atuações desse longa enfim se consolidaram, com um roteiro bem melhor trabalhado, os atores conseguiram mostrar toda a desenvoltura deles nos papéis que lhes marcarão para sempre. Do trio, infelizmente o único que ainda se mostra mal preparado é (irônicamente) Daniel Radcliffe no papel principal, ele ainda não consegue se impor direito diante certas cenas, acho que toda a responsabilidade jogada em cima dele atrapalhou seu desenvolvimento, mas não é nada que chegue a atrapalhar o andamento do filme. Rupert Grint está bem como sempre, no papel de melhor amigo do protagonista, rende ótimas tiradas que dão o tom cômico certo ao tão sombrio longa e até arrisca uma boa performance numa cena dramática, realmente se destaca. Agora, pra mim, o que me impressionou mais foi Emma Watson que a cada filme se mostrava melhor (em muitos sentidos) e nesse arrebata o telespectador logo de cara na primeira cena, onde ela usa um feitiço que faz seus pais esquecerem dela, como se ela nunca houvesse existido, tendo uma atuação magnifica e tocante sem dizer uma palavra, suas feições dizem tudo, e confesso que me deixou arrepiado. Fora eles, temos o brilhante elenco inglês de peso que rende boas participações, como Alan Rickman (Snape), que é um cara foda, sem mais nem menos, Helena Bonhan Carter (Bellatrix Lestrange) que tem a melhor atuação do filme, Bill Night (Rufus Scrimgeour) que é um dos atores que mais gosto, Brendan Gleeson (Olho-Tonto) mais irônico do que nunca, e Ralph Fiennes que encarna com maestria o Lord das trevas, sombrio e cruel na medida certa.

 

Tem uma parte desse longa em particular que eu gostei muito e que é uma novidade na série. Quando contam a história das tais Reliquias da Morte, é usado o recurso de animação gráfica que foi muito, mas muito bem feito, sendo um dos melhores momentos do filme! Eu não esperava por isso, é uma animação rica, detalhada, com cores fortes e traços impactantes, realmente excelente.

 

Algo que sempre gostei na saga de Harry Potter é a analogia ao racismo que se é feita, onde os bruxos legítimos discriminam aqueles que vêm de familias de trouxas, os chamados “sangues ruins”. Isso sempre apareceu de leve nos filmes, aumentando gradativamente a cada episódio, mas é nesse que se dá o devido tratamento ao tema, de forma mais madura e concreta, vemos a discriminação invadir as ruas do mundo bruxo, no ministério principalmente, que inicia uma perseguição aos impuros e dita novas regras de comportamento para com essas pessoas, fazendo uma critica forte e bem direta ao nazismo e é claro a discriminação! Graças ao tom maduro desse último filme, podemos perceber isso com mais força, a mensagem é passada de maneira mais eficaz, e Harry Potter enfim deixa de ser um filme superficial.

 

A grande jogada desse capítulo são os rituais de passagem que são demonstrados simbólicamente no filme. Quando saímos da infância, assim como os protagonistas, perdemos totalmente nossas bases e somos jogados no cruel mundo de “verdade”, não temos mais o conforto das nossas familias e nem do nosso colégio, agora é pra valer, é a vida! Perfeitamente vemos isso na tela, os 3 estão sozinhos no mundo bruxo, correndo atras de seus objetivos, sem ter nenhum familiar por perto ou nem sequer um professor amigo para acalenta-los, nada, eles só tem um ao outro, e assim seguirão daqui pra frente. Quando a coruja de Harry morre não é a toa, Rowling mais uma vez usando de simbologia mostra que a fase infantil inocente de Harry se foi, e agora ele tem que enfrentar seus problemas com maturidade e maldade. Por essas e outras coisas Harry Potter é uma série tão amada por nós jovens, crescemos junto com esses 3 amigos, nos identificamos, acompanhamos suas mudanças. Eu sou sortudo por me enquadrar perfeitamente na idade dos personagens, pude realmente acompanha-los a cada ano que passava. Nos 2 primeiros filmes eu odiava a Hermione, achava ela a estraga prazeres, quando chegou no 3°, minha cabeça já tinha mudado assim como a de Harry e Rony que começaram a notar ela de um jeito diferente, até chegar no 4° onde nos  petrificamos ao ver o quão gostosa ela ficou naquele vestido de baile! Acho isso muito legal, tenho certeza que não sou único que pensa assim. Harry Potter sem dúvidas é a série que marcou a minha infancia e juventude.

 

Harry Potter é um filme que nem preciso recomendar, você simplesmente vai ver, não há como fugir! Quem é mais velho pode achar bobeira, mas realmente é um filme muito bom, maduro, sombrio, misterioso, encantador, inteligente, divertido, mágico, fenômenal. Harry Potter é o fenômeno da minha geração!

E que venha enfim o final!

terça-feira, 16 de novembro de 2010

A Outra Face- A Identidade é uma arma letal!

Dos filmes de ação que costumam passar no “Domingo Maior” este talvez seja um dos mais inteligentes, que conta com a direção de John Woo e no elenco com Nicholas Cage e John Travolta que trocam de personagem, ou melhor, de rosto, e nos dão excelentes provas de boa atuação e convicção

A história do longa é fascinante. Temos como protagonistas o agente especial do FBI Sean Archer (Travolta) que é obcecado por capturar o grande terrorista Castor Troy (Cage), que á um tempo atrás matou acidentalmente seu filho. Numa emboscada, Sean consegue pegar Castor, mas este entra em coma, e Archer precisa de provas mais concretas sobre o plano terrorista de Castor para prendê-lo e evitar a explosão. Então, para conseguir essas provas, Sean se submete a uma cirurgia em que ficaria com o rosto de Castor, para assim arrancar a informação do plano com o irmão do terrorista. Mas para essa cirurgia, obviamente, era preciso tirar o próprio rosto, que ficou guardado numa capsula para depois retornar a cara de seu dono, porém Castor acorda do coma em que foi envolvido e quer respostas pela sua falta de rosto. O médico lhe responde a força, e percebendo a situação favorável, Castor manda que coloquem o rosto do agente nele, dando inicio a um jogo de identidade e perseguições que te deixará ligado até a cena final.

Com esse roteiro simplesmente brilhante, John Woo desenvolve um filme de ação excelente, repleto de tomadas de tirar o fôlego, crises de caráter e reviravoltas de explodir a cabeça! “A Outra Face” é muito bem filmado, os ângulos escolhidos pelo diretor nos fazem acompanhar bem as cenas, principalmente as de ação, o que resulta num ótimo entretenimento para os fãs do gênero. Os tiroteiros que permeiam o filme são bem armados, e não puro bang bang, além disso há vários confrontos “cara a cara” entre os protagonistas, que rendem excelentes cenas de tensão que dão ao filme o tom de suspense certo.

As atuações são formidáveis. A trama envolvendo a troca de rostos possibilita aos atores demonstrarem toda a sua versatilidade e feições, o que é um verdadeiro presente para nós espectadores. Tanto Cage quanto Travolta tiveram um trabalho quase que triplicado, já que um teria que interpretar o personagem A (1), que troca de rosto e finge ser o personagem B (2), o ator A em questão teria que interpretar o B fingindo ser o A (3), ou seja, teria que captar o modo de como um fingiria ser o outro, coisa de mestre! Ambos se mostram eficientes no serviço de interpretar o personagem do outro, fazendo de “A Outra Face” um dos filmes mais fascinantes que eu já vi.

O legal desse filme é justamente a questão de como a identidade de uma pessoa é importante, e mais ainda, como nosso jeito de agir está sujeito a fatores exteriores, seguindo a brilhante teoria que uma amiga minha não me deixa esquecer: DETERMINISMO, o meio determina o homem. Quando um está com o rosto do outro eles mudam de vida, as pessoas que os cercam mudam e sendo assim eles acabam, querendo ou não, mudando também, adquirindo caracteristicas que antes eles até repugnavam, gerando uma troca de identidade não só exteriormente mas também interiormente, sendo este o maior conflito que temos na tela. Vale citar também outra frase filosófica, “Quando se olha muito para o abismo, o abismo olha de volta”, o que representa muito bem a situação que temos no longa.

Recomendo com orgulho o longa para qualquer um que curte um bom filme de ação estando certo que a pessoa vai gostar desse excelente jogo de gato e rato onde saber quem é quem e principalmente saber quem se é, é fundamental para permanecer vivo até o final.

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