Guy Ritchie é um diretor que já marcou sua presença no mundo do cinema com seu estilo único de edição e velocidade na hora de contar uma história com seu filme mais famoso, Snatch. Mas, em minha singela opinião, é em Revolver, um filme que se disfarça bem de apenas mais uma ação clichê, que Ritchie demonstra toda a sua genialidade num roteiro brilhante que se mostra inteligente em cada cena.
A história concisa e rápida do longa gira em torno de Jake Green (Jason Statham), um jogador inveterado, audacioso, com muita sorte, mas pouco dotado de senso. Está proibido de jogar em diversos casinos por uma razão simples: Jake ganha sempre. Quando estava preso na solitária, conheceu dois criminosos que lhe ensinou uma técnica infalivel de se ganhar sempre em qualquer jogo, fazendo dele um grande jogador. Ao longo dos anos conseguiu tornar-se tão rico que é agora o único cliente de Billy (Andrew Howard), seu irmão e contabilista. Uma noite, Jake, Billy e o outro irmão Joe são convidados para um jogo privado. Nessa noite é esperado que Jake perca contra Dorothy Macha (Ray Liotta), líder de um grupo do crime e proprietário de um casino. Mas ao contrário do esperado, Jake vence e humilha Dorothy e a partir daí instala-se a confusão na sua vida.
Eu, quando comecei a ver o filme, achei que era apenas um filme de ação whatever, história simples, tiroteios, perseguições de carro e só, mas me enganei, e nunca fiquei tão feliz em ter me enganado. A genialidade do roteiro é tamanha que eu nem sei explicar sem entregar o grande ponto forte do longa, então farei o seguinte, uma pequena zona de spoiller a seguir (nem estou plágiando nerdcast) despejando tudo que achei do filme, e depois o texto volta a sua habitual rotina de análise. Então:
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ZONA DE SPOILLER:
Achei incrivelmente foda a jogada que o filme faz com nossas mentes. O que começa como um simples filme de gangsters, se transforma numa obra-prima reflexiva à la Clube da Luta. O lance do ego ser nosso maior inimigo e que ele ser dessa forma o grande vilão do filme que não aparece, o temido Sam Gold, é genial. Não esperava algo assim tão profundo, e faz o maior sentido. A única pessoa que pode nos destruir é nós mesmos, ou melhor, nosso ego, que aje de forma que nós achemos que somos ele. Isso é brilhantemente demonstrado no longa pela narração em off dos personagens, que nós achamos no início ser apenas um recurso para tornar o filme mais dinâmico, quando na verdade representa o ego de cada personagem falando com ele mesmo ( a pessoa), coisa que só descobrimos no final, com o grande combate do longa, que ocorre entre Jake e seu ego num elevador parado. FODA! No final do filme, aparecem entrevistas com psicólogos a respeito do assunto (ego), e é realmente muito interessante isso tudo, porque nunca paramos para pensar sequer na real existência dele, pelo menos eu nunca fiz isso. É muito bizarro pensar que somos controlados por algo que achamos que somos nós, quando na verdade não é, chega a dar arrepios. O filme explica que o ego pode ser visto como o mal que existe dentro de nós, e até mesmo como o diabo, é a famosa voz na tua cabeça, muito sinistro. Eu ainda preciso rever o filme para entendê-lo melhor, há muita informação que passa despercebida na história, até mesmo pela sua velocidade, mas acho que ainda há mais coisas por trás. No filme há muitas cenas de jogo de xadrez, mostrando a tal fórmula de sucesso infalivel, e o filme todo parece um grande jogo de xadrez por metáforas, não sei explicar, mas consigo perceber algumas coisas relacionadas, alguns personagens que se assemelham as peças. Se for realmente isso, Revolver pode ser o filme mais bem bolado dos últimos tempos! Sem mais nenhum spoiller a dizer, eis que termina aqui a ZONA DE SPOILLER!
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As atuações principais são normais, nada muito a exaltar. Statham nunca foi lá grandes coisas, nesse filme ele não chega a estragá-lo, ele mantem o ritmo e tem uma boa performance no clímax do filme. Digo a mesma coisa para Ray Liotta, no momento final, ele chega a impressionar. Agora quem rouba a cena de modo confiante e silencioso é Andre Benjamin, que interpreta com classe um dos criminosos que ajuda Jake, e Mark Stronger, que é um dos assassinos profissionais de Macha, que executa seus trabalhos com grande frieza e tranquilidade. Fora esses, o filme se sustenta mais na sua brilhante história.
O filme deve ser visto com muita atenção, ele é bem curto, e, como todo filme de Ritchie, é extremamente rápido, não perde muito tempo em explicações. O longa na verdade não explica muito os fatos, simplesmente os mostra, e cabe a nós pensarmos o porque daquilo tudo, sendo assim, pode ser meio confuso assistí-lo. É realmente um filme muito dinâmico, e a edição feita no longa contribui, e muito, para isso, o que é muito bom, as cenas de ação ficam incríveis com esse efeito.
Recomendo o filme às cabeças pensantes, tenho certeza que gostarão e admirarão muito esse longa, que levanta mais dúvidas do que responde. Como por exemplo: porque um filme tão brilhante recebeu o banal nome de um filme de ação qualquer, “Revolver”? Mas pode ter certeza, que depois de assistí-lo, essa será a menor de suas dúvidas…
“O maior inimigo se esconderá onde você menos espera”
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