Quantos adjetivos eu consigo dar a esse filme? É realmente algo a pensar, pois poderia ficar horas e horas escrevendo sobre ele, elogiando a cada frase. Mas não me estenderei muito, tentarei ser objetivo na análise desse transgressor cult.
Zelig é um longa do genial Woody Allen, um dos meus diretores favoritos, que reiventa o cinema com algo nunca antes feito, e que hoje é um estilo muito usado: o pseudo-documentário. Sim, foi titio Allen que teve essa ideia brilhante, e graças a ele temos Borat, Brüno, Bruxa de Blair entre outros plágiadores ou seguidores, chamem como quiserem. Zelig, diferente desses “seguidores”, consegue transmitir uma mensagem bem mais crítica e forte, que consegue mexer com os pensamentos de todos, sem precisar quebrar muito a cabeça. A história que nos é contada como um documentário sério é a do peculiar Leonard Zelig, o “Homem-Camaleão” (interpretado por Allen), que impressionou os EUA na década de 20 com sua habilidade estranhamente especial: se transformar instantaneamente na pessoa mais próxima, não ficando um clone, mas sim adquirindo suas características, exemplo, conversando com um obeso Zelig fica obeso, conversando com um negro, ele fica negro, e assim por diante. Zelig vira então uma celebridade da noite para o dia, todos ficam curiosos com suas habilidades, principalmente a comunidade médica que fica fascinada com a capacidade de Zelig de se transformar, e como ele não tem escolha, é algo automático, os médicos a consideram uma doença, e pedem para analisa-lo. Sem muitas descobertas ou sucesso na “cura” da doença de Zelig, os médicos desistem, exceto a Dr. Eudora (Mia Farrow) que persiste na ideia que é algo psicológico e que conseguiria curá-lo com terapias. Então, lhe é concebida a permissão de trata-lo, e a partir daí descobrimos aos poucos mais sobre o “Homem-Camaleão” e suas bizarrices.
O filme é extremamente engraçado, como todo filme satírico de Allen, o que não faltam são piadas irônicas e gags visuais, que nos ajudam a digerir toda a mensagem que o filme nos quer passar. A crítica principal que o filme faz é a questão de nós humanos estarmos sempre tentando mudar nosso jeito de ser para que assim nos sintamos mais a vontade e seguros diante dos outros, que julgamos serem melhores que nós, o que não é verdade. O mais incrível é o modo escolhido por Woody para nos dizer isso, a sacada de uma doença que faz um homem se transformar nos outros para se sentir bem é inteligentíssima, é uma analogia simples e sútil mas que nos atinge como uma bala de canhão, e nos faz refletir, ou melhor nos convence a deixarmos de tentar copiar os outros e termos nossos próprios jeitos de ser e nossas próprias opiniões. E no meio disso nos faz dar gargalhadas histéricas, o que é a especialidade de Allen: nos enfiar uma faca sem percebermos, pois estamos rindo! (FODA!) Como se fosse pouco, o filme ainda crítica a questão das “celebridades instantaneas” que geram movimentações populares e principalmente exploração pelo comércio que suga até a última gota do sucesso de tal pessoa. Genial.
Recomendo àqueles sem preconceitos com filmes não convencionais, pois esse é mega não convencional e pode desagradar a muitos. Mas quem curte Woody Allen vai adorar essa crítica inovadora e assustadoramente atual que só esse doido paranóico consegue fazer com tanta perfeição.Quantos aos adjetivos para o filme, a lista continua: inteligente, satírico, diferente, impressionante, inacreditavel, surreal, foda, estranho, excêntrico, transgressor, excelente…
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