Antes de Christopher Nolan assumir a série Batman a partir do Begins, os filmes do herói eram muito, mas muito ruins. Eram filmes bobos, lembrando a antiga série de tv do Batman, com vilões atrapalhados, coisas coloridas e bum, pan, pow! E mesmo que conseguissem um ótimo elenco (sabe Deus como) com nomes como Michael Keaton, Nicole Kidman, Danny DeVito, Michelle Pfeifeir e George Clooney, seus filmes eram fúteis e facilmente esquecidos por chegarem a serem ridiculos. Mas isso mudou quando o audacioso Nolan assumiu o comando do renascimento do herói em Batman Begins, um filme que agradou aos fãs por mostrar o herói e, principalmente, Gothan como realmente são nos quadrinhos. Batman é um defensor noturno que se esconde a todo instante, não gosta de aparecer e sabe ser inteligente e cruel quando necessário, enquanto sua verdadeira identidade, Bruce Wayne, mantém as aparencias de um riquinho mimado que gosta de curtir a vida sem limites com a herança deixada pelos seus pais, sendo muito bem interpretado pelo Christian Bale. E Gothan City se apresenta como uma cidade suja, tomada pelos criminosos e por policiais corruptos, exatamente como é proposto nos quadrinhos, dando ao filme um estilo Noir incrivelmente atual.
Mas foi em Batman O Cavaleiro das Trevas que Nolan obteve seu auge, assim como a saga do herói q dessa vez enfrenta o seu lunático arquinimigo Coringa, que rouba o filme devido a espetacular atuação de Heath Ledger que, mesmo morto, recebeu o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante. A atuação dele merece um parágrafo a parte, então não nos concentremos nisso agora. A adrenalina no filme é constante, cada armadilha proposta pelo Coringa parece com aquelas grandes cenas finais de filmes de ação, te deixando boquiaberto durante todo o longa. E o legal é que cada uma é meticulosamente montada, nos mostrando coisas novas, situações jamais vistas, fazendo deste longa um filmaço. Além do Coringa, nos é apresentado Harvey Dent (Aaron Eckhart), um novo promotor público que promete acabar com a criminalidade em Gothan, sendo chamado até de Cavaleiro Branco. Mas isso tudo vai por água abaixo depois de uma bem armada e sucedida armadilha do Coringa q o faz cair em desgraça e se tornando num outro famoso inimigo do Batman: Duas Caras. Dentre outros personagens temos os que já foram apresentados no Begins: o sarcástico mordomo Alfred (Michael Caine), o desenvolvedor dos equipamentos do Batman Lucius Fox (Morgan Freeman), o policial amigo Gordon (Gary Oldman) e a paixão do herói Rachel (Maggie Gyllenhaal).
Um aspecto impressionante, e até mesmo surpreendente, do filme é a subjetividade que acompanha o longa do início ao fim. Tudo pode ser uma metáfora, basta querer ver. A mais forte (e foda) é a moeda de Dent que nos leva a vários jogos de palavras (duas caras) e de ideias (dois lados do ser humano). Muito foda. É surpreendente porque não esperamos tanta profundidade de um filme dito “Blockbuster”, e quando vi que que essa mistura é possível, fiquei feliz :D.
Agora o Coringa. Heath Ledger simplesmente tornou o Coringa possível, trouxe ele para a realidade, por mais surreal q seja. Não sei como explicar, mas Ledger fez do Coringa um doente psicótico pertubado, com estranhezas, tiques nervosos e nenhum escrúpulo. Sua atuação é perfeita, fazendo jus ao personagem que por si só já é foda. O objetivo do Coringa não é matar o Batman, ele mesmo diz que se ele o matasse não teria mais graça, o objetivo dele é mostrar que todas as pessoas, quando expostas ao extremo, são como ele, “basta dar um empurrãozinho”. Este lance do Coringa é o que dá profundidade ao filme, e também grandes doses de originalidade, pois cada armadilha do vilão pode ser entendida como um “experimento social” cheio de efeitos especiais! Dentre as minhas cenas favoritas estão a incrível sequência inicial que mostra um plano perfeito de assalto a banco, qualquer cena em q o Coringa apareça, a apresentação do Coringa aos criminosos em reunião e a parte em que Harvey Dent cai em desgraça e vira o Duas Caras que tem uma maquiagem/efeito que faz parecer real de tão perfeito. E também, lógico, a incrível armadilha final que te faz saltar da cadeira de tão vibrante e eletrizante que é.
Um elemento que normalmente é esquecido em filmes de “ação blockbuster”, mas que nesse foi muito bem elaborado foi o roteiro. As falas e diálogos são cuidadosamente escritas de forma que, em momento algum, o filme fica chato, somente rico e inteligente. O roteiro ainda dá direito a um bordão que não cai no repetimento (só esse filme conseguiu isso) dito insanamente pelo Coringa: Why so serious? (porque tão sério?).
Ouso dizer que este foi o filme que eu mais curti assistir ano passado e que eu mais subestimei. Quando fui no cinema não esperava tanto, e pra dizer a verdade achava que Ledger era muito novo para o papel que antes foi interpretado pelo grande freak Jack Nicholson, então fui despreparado. Com o decorrer do filme, fui percebendo a sua grandiosidade e amando cada cena. É sem dúvida um marco na história dos filmes de super heróis que ultrapassou a barreira do Oscar, conseguindo levar o prêmio de Melhor Ator Coadjuvante e não ficando apenas com as clichês categorias técnicas (efeitos, sons, maquiagem..). Mas ainda achei uma injustiça o filme não ter sido indicado a melhor roteiro e melhor direção, mas tudo bem, todo ano a academia tem que fazer umas escrotices dessas. Enfim nossa parte clichê do texto, não percam tempo, se você não viu ainda, veja, porque esse não é somente um filme de ação.