domingo, 24 de abril de 2011

Minority Report- O Futuro é Certo [?]

Que Steven Spielberg é um cara foda, todos nós sabemos. Que ele é o rei dos blockbusters e responsável por toda a banalização do cinema para fins lucrativos também sabemos. Mas o que temos esquecido (e ele também) é que ele já fez coisas realmente muito boas, e uma delas, que poucos falam, é Minority Report, um filmaço de ficção cientifica policial que mexe com vários temas e nos deixa ligados até o fim. Minority Report é um filme que NÃO PODE ser esquecido de maneira alguma!

A história inteligentíssima gira em torno da agência Pré Crime, que conta com 3 gêmeos “videntes”, os pré-cogs, que prevêem futuros crimes, e assim, os agentes são capazes de impedir o criminoso antes do ato em si, garantindo a “segurança” nacional. Nenhum crime tem ocorrido desde sua implantação, e a eficiência do agente John (Tom Cruise) tem contribuído para isso. Tudo vai bem até que os pré-cogs prevêem John assassinando um homem, um homem que até então John nem conhecia. Quando John fica sabendo disso, entra em desespero e foge em busca de respostas, e de segurança própria, já que agora toda a agência está atrás dele, afinal, o sistema é perfeito, não tem e nem pode ter erros, e o destino de John tem que ser confirmado, se não toda a agência entrará em caos.

O brilhante roteiro é baseado no livro do genial Phillip K. Dick, responsável também por Blade Runner, e é muito bem conduzido por Spielberg, colocando em tela todo o suspense do livro. A história em si é muito bem elaborada, ao longo do filme percebemos que vários crimes que nos são apresentados “a toa” na verdade estão interligados de maneira tal que um não teria acontecido se não fosse pelo outro, e a rede de mistérios formada é resolvida apenas no segundo final, onde contemplamos toda a genialidade de Dick ao bolar tudo isso.

E o legal de todo o filme é a questão do “futuro” que ele debate. Ao prender um futuro criminoso, os agentes poderiam estar cometendo uma grande injustiça, afinal o sujeito ainda não tinha consumido o ato em si, mas de qualquer forma o prendem e previne a sociedade do possível crime. Então aí vem a questão: o nosso futuro está escrito? O sistema responde que sim para não haver falhas, mas se contradiz, já que os agentes impedem o crime e mudam radicalmente o futuro. Temos um impasse. Quando John descobre que irá matar alguém que nem conhece em 30 horas ele vai atrás de respostas, e cada caminho que pega para isso acaba o conduzindo para a cena do crime previsto e ele no final o comete. Aí então temos 2 dilemas: primeiro, se ele não soubesse que iria cometer o crime, ele simplesmente não o cometeria, ele não chegaria no lugar do assassinato com uma arma na mão, ficaria em casa se drogando e ponto; e segundo, ele sabendo do crime, ele também poderia evitá-lo ficando em casa se drogando, ou seja ele tinha a escolha, mas mesmo assim o fez. E agora? Somos realmente donos dos nossos destinos ou estamos a mercê deles? Será que mesmo quando tomamos escolhas “diferentes” o destino já se encarregou de mudar seu caminho para o lugar que deve ser segundo ele? Haha, é realmente de pirar mesmo, o filme consegue fazer a gente refletir bastante sobre isso tudo e nos deixa no chão, em posição fetal sem a menor sombra de resposta. Philip K. Dick é o mestre em fazer isso, né Blade Runner?

Gosto desse filme também pelo “futuro segundo Steven Spielberg”. Nem preciso dizer que o filme é cheio de efeitos especiais, mas como já disse, afirmo que são da melhor qualidade! Os cenários são bem tecnológicos, mas não piram loucamente a ponto de ficar parecendo os Jetsons! O filme se passa em 2046, sendo assim, aqueles que podem tem acesso a tecnologia avançada e os outros continuam com a vida mais ou menos como estamos agora. Além disso, as casas permanecem um pouco aos moldes de hoje, nada muito extravagante com luzes por todo lado e portas que se abrem com comando de voz, o que dá realidade e bom senso ao longa. Spielberg foi esperto em usar uma fotografia iluminada nesse ponto, conseguiu mostrar que é um filme do futuro sem perder as estribeiras, demonstrando toda a sua maestria na direção.

Minority Report merece tomar 2h20 do seu tempo, sua genialidade misturada a um thriller de tirar o fôlego faz do filme uma verdadeira obra prima de Spielberg que vai abalar as suas estruturas com uma concepção de futuro diferente do que vimos até agora! E como se isso fosse pouco, ainda faz você refletir bastante sobre a vida e os caminhos que nós pegamos. Será que seríamos assim se tivéssemos virado a direita e não a esquerda? E se tivéssemos tomado a pílula azul?

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